a beleza do dia a dia
Em tempos desvalorizei o dia a dia. Acordava embrulhada em todos os pensamentos que tinha deixado de lado antes de desligar o meu corpo por mais uma noite.
Este ciclo, que parecia não querer descansar, incentivava-me a procurar distrações para que, nem que fosse por breves momentos, conseguisse sentir a leveza de uma mente liberta do diálogo que vezes e vezes sem conta se desenrolava.
Conscientemente, uma parte de mim sabia que nem tudo o que ouvia era verdade; que era sim, o programa que me ficou registado no subconsciente que sussurrava palavras de desencorajamento.
Com o tempo, comecei a prestar atenção aos momentos em que estas vozes apareciam. Como padrões perfeitamente organizados, sempre que um desafio encontrava o meu caminho, ali estavam elas a tentarem manipular-me com toda a sua destreza, para que eu evitasse o desconforto que me iria fazer crescer e me levaria na direção da melhor versão de mim mesma.
Agora eu sei que tais vozes só lutavam pela sua sobrevivência, porque sabiam, melhor do que eu mesma, que cada desafio ultrapassado significava um passo mais próximo do seu desaparecimento.
Não somos os nossos pensamentos, mas sim quem os ouve. Por isso questionei-me de como conseguiria explorar o caminho que tenho a percorrer, e agir mesmo quando não consigo silenciar por completo o medo que com o desconhecido tem a tendência de crescer. Foi então que compreendi que a resposta está na apreciação do presente, no reconhecimento de que todos os dias temos a oportunidade de aprender com cada experiência; compreender que emoções vão e vêm, e o nosso papel enquanto seres dedicados a senti-las, está em reconhecer a mensagem que cada uma luta por nos transmitir, e lembrarmo-nos que para além do corpo, somos o espírito que se alimenta da aprendizagem que tais experiências proporcionam.
A beleza do dia a dia está para lá da perfeição. Está na apreciação de todos os altos e baixos, e no reconhecimento de que sem as tempestades, não conseguiríamos reconhecer a paz de um dia solarengo.